Dez Anos de Afastamento da União Europeia

 Para CGTP-IN é imperiosa uma mudança de política, que coloque no centro do modelo de desenvolvimento o trabalho e a valorização daqueles que trabalham, como forma de superar o atraso estrutural do país, de esbater a elevada dependência face à procura externa e de promover a elevação das condições de vida da larga maioria da população. Trata-se antes de mais de uma questão de justiça social!

 

 

 

 

Comunicado de Imprensa n.º 032/09

 

DEZ ANOS DE AFASTAMENTO DA UNIÃO EUROPEIA

 

Os dados divulgados ontem pela Comissão Europeia (CE) demonstram a natureza das políticas implementadas no país ao longo dos últimos anos. Para além de não haver a tão propalada convergência com os níveis de crescimento da UE, verificamos que os primeiros dez anos do século XXI se traduzem num afastamento de Portugal em relação à média europeia, naquela que é já uma década perdida no objectivo de alcançar os níveis de crescimento dos restantes países da UE.


                   FONTE: EUROSTAT

Tomando por base o ano de 2000, com base nos dados divulgados pelo EUROSTAT, concluímos que no final de 2010 Portugal terá crescido a um ritmo médio anual inferior a 1%, sendo a divergência acumulada com a média da UE superior a 6%.

O nível de vida dos portugueses está assim a afastar-se progressivamente da média comunitária. Este desvio tenderá a agravar-se no futuro devido à elevada dívida pública (que se prevê passar de 63,6% do PIB em 2005 para 81,5% em 2010) o que acarretará uma elevada saída de rendimentos por motivo de pagamento de juros. Trata-se de um empobrecimento da população que está directamente ligado às opções de política económica.  

A análise ao relatório da CE revela a fragilidade do nosso modelo económico, assente em produções de baixo valor acrescentado e nas exportações sem um adequada valorização do nosso mercado interno. O país está assim mais vulnerável à quebra da procura externa dirigida à economia portuguesa. De notar que os principais parceiros comerciais de Portugal, nomeadamente os países para onde se canaliza grande parte das exportações do país, estão entre as principais economias afectadas pelas consequências da presente situação económica.

Para além do fraco crescimento do produto, Portugal é dos países da UE em que as desigualdades na repartição desse produto são mais gritantes, situação que agrava ainda mais as condições de vida dos trabalhadores e povo português.

Para a CGTP-IN os dados agora revelados vêm confirmar o erro nas opções políticas dos sucessivos governos, ao mesmo tempo que demonstram a necessidade de uma mudança de políticas que valorizem a produção nacional de alto valor acrescentado, o consumo interno e a valorização dos salários e das pensões.

Valorização do Trabalho com Direitos

Outro dos aspectos mais preocupantes das projecções da UE prende-se com o aumento do desemprego, num sentido crescente nos próximos dois anos, podendo atingir os 10% dos trabalhadores em 2010. Assim se comprovam as consequências na insistência de um modelo onde o factor trabalho é enquadrado como acessório ou instrumental, ao serviço das dinâmicas introduzidas pelos mercados e daqueles que, com a conivência, suporte e promoção dos governos, os controlam. Não deixa de ser sintomática a apresentação dos resultados financeiros de alguns dos grandes grupos económicos e financeiros que continuam a reflectir avultados lucros no primeiro trimestre de 2009, apesar da crise em que o país se encontra.

Os trabalhadores portugueses não aceitam estar condenados a tempos difíceis, sendo inaceitável a ideia que vai sendo propagandeada, no relatório da CE e por diversos “analistas” nacionais, da necessidade de uma maior deterioração das condições de trabalho e de vida dos portugueses.

Os trabalhadores não têm qualquer responsabilidade por uma crise resultante de um colapso financeiro provocado pela prevalência de lógicas especulativas com prejuízo do desenvolvimento das actividades produtivas e do emprego. Apesar disso, depois dos sacrifícios a que têm sido sujeitos para reduzir o défice público, sofrem as consequências provocadas pela quebra de actividade económica de que o resultado mais dramático é o agravamento do desemprego. Querer impor mais sacrifícios apenas agravaria injustiças sociais.    

Para CGTP-IN é imperiosa uma mudança de política, que coloque no centro do modelo de desenvolvimento o trabalho e a valorização daqueles que trabalham, como forma de superar o atraso estrutural do país, de esbater a elevada dependência face à procura externa e de promover a elevação das condições de vida da larga maioria da população. Trata-se antes de mais de uma questão de justiça social!

DIF/CGTP-IN
Lisboa, 06.05.2009