Encontro Internacional de Solidariedade com Os Trabalhadores e Os Povos do Médio Oriente

Encontro Internacional de Solidariedade com os Trabalhadores e os Povos do Médio Oriente

Lisboa, 26 de Maio de 2006
 

Manuel Carvalho da Silva
Secretário-Geral da CGTP-INenc_sol_med_orient_26_maio
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Exmos. Senhores Embaixadores,

Exmos. Senhores Convidados,

Caros Sindicalistas do Médio Oriente e da Europa,

Camaradas e Amigos,

Como sindicalistas sentimos muito a necessidade de sermos solidários, neste tempo de globalização neo-liberal, em que às vezes parece que só o dinheiro tem valor. Neste tempo em que, pese embora os extraordinários progressos científicos e técnicos registados e as importantes conquistas laborais e sociais que foram sendo construídas com muitos sacrifícios, subsistem e, nalguns casos, agravam-se, velhos problemas decorrentes da oposição de interesses entre o capital e o trabalho, em função de requintadas e globalizadas formas de exploração e da onda de desregulamentação do trabalho que a ideologia e práticas políticas neo-liberais vêem impondo na generalidade dos países.

Como trabalhadores e cidadãos empenhados desta União Europeia, vizinha e obrigatoriamente parceira de todos os países da Bacia Mediterrânica – com quem partilhamos um destino comum – sentimo-nos preocupados face ao crescimento das desigualdades entre países ricos e pobres, ao aumento da pobreza, do desemprego, da precariedade e da exclusão social. Mas também, profundamente inquietos e receosos com o agravamento das inseguranças e de factores causadores de rupturas e conflitos, que explodem em revoltas das pessoas e se expressam, quer no plano individual, quer na manifestação colectiva das sociedades.

A defesa da vida, da dignidade humana, das liberdades, da justiça social, dos direitos dos povos às suas culturas e independência – numa vivência universal de solidariedade, tolerância e cooperação – a afirmação da paz, constituem causas e valores pelos quais há que lutar com o melhor das nossas capacidades e energias.

Diariamente nos indignamos perante as brutais imagens de repressão que nos surgem da Palestina ou do Iraque ocupados, perante o sofrimento provocado por tantos milhares de vidas perdidas em resultado de políticas autoritárias e de ilegais ocupações.

Os interesses estratégicos dos EUA e seus mais próximos aliados ocidentais, bem como de Israel, são a causa fundamental da situação que se vive nesta martirizada região.

Apesar de inúmeras iniciativas de paz lançadas ao longo de anos, aprofundaram-se os conflitos e o recurso à guerra, à ocupação e à tentativa, em particular dos Estados Unidos, de dominar esta região, submetendo-a aos seus interesses energéticos e geo-estratégicos.

Desde o embargo ao Iraque, iniciado em 1991, por George Bush pai, ao aprofundamento da colonização israelita e do Muro de Sharon, à ocupação do Afeganistão, à guerra e ocupação do Iraque, mas também à continuada ocupação de partes dos territórios libaneses e sírios por parte de Israel, à prolongada divisão de Chipre e às recentes ameaças ao Irão e Síria, o panorama é o de uma brutal investida contra a liberdade, a soberania e o direito a viver em paz, de tantos povos desta Região.

A CGTP-IN coerentemente denuncia e combate estas políticas belicistas que ofendem os mais elementares direitos humanos, que alguns apregoam para consumo de outros, mas que quantas vezes não praticam, antes violam grosseiramente.

Sempre condenámos veementemente o terrorismo nas suas diversas formas, seja ele individual, colectivo ou de Estado e sempre afirmámos que esse método não faz parte do arsenal de luta dos trabalhadores. 

Por isso, não aceitamos que se use o pretexto do combate ao terrorismo, para se atacarem nações e povos inocentes, tentando misturar terrorismo com o natural direito à resistência dos povos à ocupação, direito consagrado pelas Nações Unidas.

Não existem condições de liberdade, de efectivação da democracia e, muito menos, de direitos humanos, em situação de ocupação militar estrangeira.

Na Palestina a situação é insustentável. O reforço dos colonatos de Israel, nomeadamente na Cisjordânia e o famigerado muro, condenados pela comunidade internacional e pelo Tribunal de Justiça de Haia, a suspensão das ajudas internacionais devidas ao Povo Palestiniano, por um lado, agravam as suas condições de vida e, por outro, alimentam a justa revolta de um Povo ao qual tantas resoluções das Nações Unidas reconhecem o direito de estabelecer um Estado Independente, ao lado do de Israel.

E que dizer da situação no Iraque, em que, para além dos milhares de mortos e feridos, os EUA têm presos mais de 80 mil iraquianos em 30 enormes prisões, algumas delas campos de abomináveis torturas e assassinatos? Que dizer do uso de armas químicas (particularmente de fósforo) que as tropas de ocupação usaram contra as cidades de Fallujah e Samarra? Essas sim, são armas químicas verdadeiras! Que dizer dos objectivos e missão dos voos secretos da CIA?

Caros Convidados, Camaradas e Amigos,

Consideramos que a situação no Médio Oriente exige uma atenção muito particular da comunidade internacional. O seu agravamento só poderá conduzir a incalculáveis danos para os povos da região, mas também para o espaço europeu e para todo o mundo. Uma escalada belicista poderá arrastar outros países vizinhos, e não só, para inimagináveis violências.

É nossa tarefa tudo fazer para, por um lado, denunciar e combater as causas dos problemas e, por outro, contribuir para soluções pacíficas e democráticas que garantam a estabilidade política e social e o direito à vida destes martirizados povos.

Vamos afirmar, com força, a defesa dos princípios fundadores das ONU, inscritos na Carta das Nações Unidas, donde sobressai a ilegalização da guerra e o princípio da solução pacífica dos conflitos, por mais complexos que sejam.

É com estes objectivos que a CGTP-IN participa ou promove acções como esta, procurando sempre a construção de convergência e unidade das organizações sindicais, forças políticas e movimentos que, em Portugal ou no estrangeiro, lutam pelos mesmos objectivos.

A acção dos trabalhadores e dos seus sindicatos, de um lado e do outro do Mediterrâneo, são importantes elementos de aproximação e conhecimento recíproco e, logo, de construção de sociedades solidárias. O Fórum Sindical Euro-Mediterrânico é, neste contexto, um espaço de acção e diálogo sindical muito importante, que merece todo o nosso empenho e para cujo reforço queremos que esta iniciativa contribua. Da sua acção pode brotar não só a promoção de direitos sindicais e sociais, mas também, um impulso a objectivos políticos mais amplos que os governos têm de cumprir.

Camaradas e Amigos,

Afirmaremos a nossa capacidade de ser solidários. Reforcemos a nossa intervenção e contribuição a nível material e moral, pois não há objectivo mais nobre que a luta pela justiça social, pela liberdade, pela democracia e pela Paz.

Muito obrigado!