A exposição «Aljustrel - 100 anos, do fundo à superfície», que vai estar patente de 1 de Novembro a 4 de Dezembro, na sede do STIM, evoca a greve iniciada a 3 de Outubro de 1922 e que foi o maior conflito laboral de que há registo na vila mineira. Em paralelo, vão decorrer outras iniciativas.
Durante quatro intermináveis meses, os mineiros mantiveram-se em greve, para exigirem melhores condições de trabalho e de vida, melhores salários, um salário fixo e em dia, bem como as oito horas de trabalho diário e o fim da repressão.
Comovente onda de solidariedade
Esta greve, com contornos dramáticos, teve grande repercussão no País e no estrangeiro e desencadeou uma ampla e comovente onda de solidariedade para com estes trabalhadores e seus familiares.
Desprovidos de rendimentos, estes viram-se obrigados a entregar mais de uma centena das suas crianças à compaixão do operariado de Lisboa, Barreiro, Almada e Beja, Messines, entre outros locais, para que elas tivessem de comer.
A greve dos mineiros de Aljustrel insere-se no quadro da difícil recuperação económica do pós-guerra, no início do século passado. Esse período foi fértil em «greves de resistência» por todo o País.
Em Aljustrel, os trabalhadores resistiram quatro longos meses, durante os quais foram alvo de forte repressão e de intimidações por parte dos elementos da GNR, que não hesitavam em agredir e atirar disparos para o ar, sempre apoiados pela administração da empresa mineira.
Para agravar a situação, responsáveis da Associação Comercial e Industrial de Aljustrel incentivaram os agricultores e comerciantes a não darem aos grevistas nem trabalho, nem alimentos, nem crédito. A miséria e o desânimo instalaram-se ainda mais.
Nesse período, registaram-se muitos distúrbios, com assaltos a celeiros e à fábrica de moagem das minas, em resultado da fome sentida pela população.
O sindicato foi encerrado e as reuniões interditadas pelas autoridades do concelho. A prisão de vários mineiros inconformados e revoltados provocou uma onda de solidariedade dos trabalhadores agrícolas, que se juntaram aos grevistas.
Este movimento de apoio alargou-se. Além do acolhimento das crianças em diversas casas, os operários também receberam dinheiro dos mineiros das minas de S. Domingos e do Lousal. Um pouco por todo o País, organizaram-se festas e outras iniciativas e campanhas, para angariação de fundos destinados a ajudar os grevistas.
A greve terminará a 21 de Janeiro de 1923, com o director da mina a garantir o regresso dos mineiros ao trabalho, sem represálias, embora não tivessem sido atendidas todas as suas reivindicações.
Após reunião da Confederação Geral do Trabalho (CGT), é decidido que as crianças regressariam às suas famílias, em Aljustrel, no dia 17 de Fevereiro de 1923, gerando uma grande recepção popular muito emotiva.
Aljustrelenses assinalam
Para assinalar esse período histórico acontecimento, uma comissão de aljustrelenses propôs-se organizar a exposição «Aljustrel - 100 anos, do fundo à superfície», valorizando a história tão rica desta terra mineira, cujas jazidas são exploradas há mais de 2000 anos.
A mostra irá dar a conhecer este episódio e outros mais da vida dos mineiros de Aljustrel, com o seu quotidiano de trabalho, condições de vida, miséria, actividades sociais e culturais, lutas e resistência, que sucederam nesta vila mineira durante mais de um século.
Paralelamente à exposição serão realizados vários debates no Centro de Documentação Municipal.
Haverá a exibição de um documentário, a estreia de uma peça de teatro (dia 3 de Dezembro) e um grande espectáculo de encerramento (4 de Dezembro), no Cine Oriental.
A exposição conta com o apoio do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Mineira, da Fiequimetal, da União dos Sindicatos de Beja, da CGTP-IN, da Câmara Municipal de Aljustrel, das juntas de freguesia do concelho, da Almina - Minas do Alentejo, da Companhia de Teatro Lendias d’Encantar, da Rádio TLA, do Museu do Aljube, da União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP), da Festa do Avante! e do Grupo de Estudos do PCP, entre outras entidades.