AUMENTOS SALARIAIS 2022
UMA EMPRESA EM CRISE, SEM RUMO
UM CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO AUSENTE PARA BALANÇO...EM MAIO..
No final do ano passado (30 de dezembro), os sindicatos entregaram ao Conselho de Administração um "Caderno Reivindicativo" propondo aumentos salariais globais de 4% com mínimo de 50€ e alterações de clausulado que levavam em conta a perda de rendimentos dos trabalhadores da RTP, nestes últimos anos. A 12 de janeiro de 2022, os sindicatos apresentaram a fundamentação económica da proposta que não tinha, ainda, em conta o grave aumento de inflação previsto para este ano como consequência da conjuntura internacional. A perda média de poder de compra já se cifrava em 13%!
Não existindo negociações salariais em 2020 e 2021 e segundo as recentes declarações públicas do Presidente do CA, sobre atualizações salariais para o ano em curso, esperava-se uma abertura para a real negociação dado o agravamento da inflação e a depreciação do valor do salário dos trabalhadores da RTP.
Em 2005, quando foram integradas RDP e RTP, o valor mínimo de tabela era cerca de duas vezes o valor do salário mínimo nacional. Se o governo conseguir cumprir as suas promessas eleitorais, no final desta legislatura desaparecerão da tabela salarial 10 níveis salariais, engolidos pelo salário mínimo. Os aumentos salariais na RTP arriscam-se a passarem a ser processados administrativamente aquando do aumento do salário mínimo, sendo cada vez maior o número de trabalhadores abrangidos por ele. Esta situação para além de ser escandalosa, é inaceitável!
No passado mês de abril, os sindicatos foram surpreendidos em duas reuniões - onde imperou o desnorte, a falta de preparação e a fraquíssima qualidade de argumentação - com a recusa da totalidade das suas propostas, e a oferta de uma "esmola" que corresponderia a um aumento salarial de 1% para os trabalhadores que ganhassem até aos 976 euros (valores entre 7 e 9 euros para 154 trabalhadores). Para os restantes nem é digno dizer... Os sindicatos recusaram, imediatamente, a proposta da Empresa considerando-a desrespeitosa. Face à intransigente posição dos sindicatos, a empresa comprometeu-se a reformular a sua proposta.
Para trás ficam as já gastas explicações para a posição da Empresa que, após anos e anos a serem repetidas como verdades que nunca o foram, já roçam o ofensivo, traçando urna imagem preocupante do que se está a passar na atual gestão da RTP.
Eis os argumentos do costume e novas versões, em citação não literal da nossa responsabilidade:
1 — "Os trabalhadores da RTP já têm aumentos automáticos todos os anos, por via do AE. Este ano voltamos a aumentar os gastos com o pessoal e, portanto, esta proposta já é muito boa". (O CA, nomeadamente a administradora, Luís.] Ribeiro, com o pelouro dos Recursos Humanos, replica os falaciosos argumentos de anteriores titulares do cargo - que deixaram por cá tantas saudades -, voltando contra os próprios trabalhadores o pagamento de diuturnidades, que eles aceitaram em perda do que já tinham, com o objetivo de os confundir com aumentos salariais em tabela).
2 — "Os trabalhadores da RTP já ganham muito bem, olhem só para a média do salário nacional e para o vosso". (Aqui, o C.A. fez, ainda, pior e inspirou-se em Miguel Relvas. Foi ao portal Base ver as estatísticas para o salário médio em Portugal e obteve um valor que comparou com os custos de pessoal divididos pelo número de trabalhadores. Comparou, portanto, o salário líquido de trabalhadores indiferenciados, de um dos países da Europa com a média salarial mais baixa, com a remuneração bruta de especialistas com dezenas de anos de experiência numa empresa tecnológica. Genial!
— "Sabem, isto se não formos apurados para o Mundial de Futebol vai ser mau, porque fizemos um investimento grande". (Bem-vindos à nova RTP onde os trabalhadores têm aumentos se o C.E0 tiver sorte no PLACARDJ Uma Empresa Pública que faz investimentos, dependentes de uma bela de futebol entrar numa baliza (sem culpa do Guarda Redes), que sabe afetarem a sua capacidade de remunerar, condignamente, os seus trabalhadores é uma empresa à qual se devem colocar as mais sérias perguntas sobre a gestão dos seus últimos anos. Perguntas essas, cujas respostas se aguardam do novo Ministro da Cultura, caso demonstre outros interesses pela RTP, para além de comentador.
Mesmo assim, e para alem das questões, anteriormente, colocadas o Conselho de Administração comprometeu-se a apresentar urna nova proposta, que segundo os sindicatos, pudesse dar origem a uma negociação séria e ficou, desde logo, agenciada urna reunião para o dia 5 de maio.
O CA não só não apresentou qualquer proposta como a reunião não teve lugar.
Entretanto, pressionada pela insatisfação dos trabalhadores e dos sindicatos marcou, ontem ao final do dia, uma reunião para 12 de maio não tendo apresentado, ainda, qualquer proposta para os sindicatos poderem analisar, devidamente.
A RTP merece mais e melhor?
Estes argumentos, a maneira como foram colocados, a sucessiva demora em responder a legitimas questões colocadas pelos sindicatos, a ausência de reenquadramentos profissionais sempre prometidos, mas nunca efetivados, as violações constantes do Acordo de Empresa, nomeadamente a falta de agenciamento das reuniões das carreiras profissionais e das reuniões bimensais, o não cumprimento das reuniões quinzenais para a negociação salarial, a falta de um rumo ou de estratégia, a falta de olhos postos no futuro, demonstram que este Conselho de Administração não é mais do que a confirmação do ditado que já faz parte da cultura da RTP:
'Quando tu achas que os senhores que se. seguem não podem ser piores que os anteriores, a realidade desmente-te sempre."
Os sindicatos:
FE, FETESE, SICOMP, SINTTAV, SITESE, SITIO, SJ, SMAV, STF, I'SI