O protocolo da Galp com a CM de Matosinhos e a CCDR Norte, para instalar uma mega-urbanização nos terrenos da actual refinaria do Porto, representa mais uma mega-sessão de ilusionismo climático que tem como objectivo explorar o filão da transição energética, afirma a Fiequimetal.
A federação emitiu hoje uma nota à comunicação social, sobre a refinaria e o protocolo assinado na semana passada.
Para a Fiequimetal, confirmou-se a desconfiança que tinha antes manifestado sobre a verdadeira intenção da administração da Galp Energia quanto ao destino a dar ao importante complexo petroquímico da empresa em Matosinhos.
Uns meses depois do tautau dado pelo primeiro-ministro, no encerramento da campanha eleitoral autárquica, precisamente em Matosinhos, foi revelado o elemento que faltava para evidenciar os contornos do negócio: um protocolo da Galp com a Câmara Municipal de Matosinhos e a CCDR Norte, para instalar uma mega-urbanização nos terrenos da actual refinaria.
A Fiequimetal reitera que o encerramento da refinaria do Porto constituiu um crime económico e social, a coberto da transição energética.
O novo anúncio representa mais uma mega-sessão de ilusionismo climático que, por aquilo que foi divulgado, tem como objectivo explorar o filão da transição energética, desenvolvendo um designado «innovation district».
Manobra em dois passos
Os factos já não são possíveis de esconder e apresentam-se agora em dois passos:
- a Administração encerrou uma refinaria, que produzia combustíveis (fundamentais, hoje e nos próximos anos, ao funcionamento e ao desenvolvimento da economia), e produtos químicos e óleos-base (que alimentavam muitas empresas na região e agora são importados, acrescendo aos já milhares de toneladas de combustíveis);
- em troca de fundos do PRR, pretende erguer betão à beira-mar, adornando a mega-urbanização com um «green park».
Aqui está, afinal, o resultado da «lição» do primeiro-ministro e do «coração de pedra» do ministro do Ambiente – um e outro a dirigirem à Administração da Galp palavras tão duras quanto tardias e inconsequentes. O novo protocolo vem mostrar, mais uma vez, a sintonia entre todas as entidades públicas e a Administração da Galp, na destruição de uma instalação industrial estratégica e na destruição de emprego especializado, com porta aberta para entrarem volumosas verbas públicas.
A confirmar-se este caminho, impõe-se uma tomada de posição do Presidente da República, que nada disse, até ao momento, sobre este atentado à indústria, à produção nacional e aos trabalhadores, em nome de uma suposta transição energética.
Por outro lado, é igualmente estranho o silêncio do presidente da CIP, António Saraiva, que há uns meses, numa entrevista, afirmou ter integrado um grupo de trabalho para estudar soluções de futuro para aquele espaço.
Satisfeito estará o ministro Matos Fernandes, campeão da chamada neutralidade carbónica, que desde o princípio serviu os interesses do Grupo Amorim. Assumiu, ele próprio, o anúncio do encerramento da Refinaria do Porto, e vê avançar a alternativa que tanto propalou, uma espécie de «Disney da transição energética», para aquele local.
A reter, em todo este vergonhoso processo, fica mais um exemplo concreto de como os grupos económicos (como o Grupo Amorim, a quem a Galp foi entregue de mão beijada) preferem o dinheiro fácil ao investimento industrial.
A actual situação no sector energético e de combustíveis deixa mais evidentes as consequências muito negativas, para a economia regional e nacional, do encerramento da refinaria do Porto. Também ganha mais razão a necessidade de reabrir a refinaria e investir a sério na sua dinamização.