Sindicato exige esclarecimento do Governo sobre alienação do Hospital do Outão para projeto privado de turismo

Sindicato exige esclarecimento do Governo sobre alienação do Hospital do Outão para projeto privado de turismoO SMZS apoia a luta dos médicos do Centro Hospitalar de Setúbal e exige que o Governo preste esclarecimentos quanto ao processo de alienação do Hospital Ortopédico do Outão para desenvolvimento de um projeto privado de turismo, colocando em risco a requalificação do Centro Hospitalar de Setúbal. O SMZS não aceita que sejam tomadas decisões discricionárias que possam levar à perda de capacidade e qualidade na prestação de cuidados, favorecendo interesses privados e prejudicando o SNS.

O Sindicato dos Médicos da Zona Sul (SMZS) tem acompanhado a luta que os médicos do Centro Hospitalar de Setúbal (CHS), representados pela sua liderança clínica (Diretores de Departamento, de Serviço e de Unidades Funcionais), vêm mantendo desde há muito contra a degradação da instituição e das suas condições de exercício clínico.

Neste sentido, têm alertado o Conselho de Administração (CA) para a perda da diferenciação dos cuidados prestados e mesmo para o eventual desaparecimento de valências, fruto do subfinanciamento crónico da instituição e da insuficiente dotação em termos de recursos humanos, técnicos e logísticos.

Das várias iniciativas tomadas, salienta-se um documento, entretanto apresentado ao Governo, datado de 12 de abril de 2021, no qual os médicos:

exigem a requalificação do CHS para o nível de diferenciação seguinte, de acordo com o prometido pela Tutela desde 2016;pedem a garantia de que as verbas atribuídas para a ampliação do CHS, inscritas no Orçamento do Estado para 2021, sejam aplicadas sem que estejam dependentes da alienação das instalações do Hospital Ortopédico do Outão;pretendem ser informados sobre a última versão do plano de obras previsto para o novo edifício e chamados a colaborar na sua elaboração;pretendem que as obras previstas salvaguardem os circuitos adequados para a correta separação de doentes em situação de pandemia, contemplem o aumento da capacidade instalada em meios complementares de diagnóstico e terapêutica, áreas de ambulatório, número de camas de internamento e em U C I, e a melhoria das condições do serviço de urgência, respondendo às necessidades da população.

O SMZS apoia as posições coletivas de intervenção das lideranças médicas nas decisões relevantes para a gestão do CHS, relembrando que apenas com o seu adequado desenvolvimento e diferenciação é que será possível atrair e fixar médicos.

Não obstante, o SMZS constatou que a ampliação do CHS, apesar de confirmada pelo Governo desde 2016, nunca foi concretizada e parece continuar dependente da alienação do Hospital de Outão para desenvolvimento de um projeto privado de turismo.

O SMZS sabe que existe uma empresa interessada neste negócio, a Voldemort Finance SL, sediada em Madrid, cujo objeto social consta a atividade imobiliária em geral e, nomeadamente, a reabilitação, gestão, administração e exploração de bens imóveis.

Além disso, é de referir que foi nomeado em 2016, pelo Despacho n.º 11924/2016, um Coordenador Nacional para Projetos Inovadores em Saúde para os novos hospitais e turismo de saúde, bem como a sua Equipa de Apoio, que inclui o atual presidente do CA do CHS, Dr. Manuel Roque.

À luz destes factos, o SMZS considera inaceitável a alienação ou condensação de espaços próprios da instituição, com a consequente diminuição do conjunto e da qualidade dos serviços prestados à população (como nas especialidades de Ortopedia, Cirurgia Plástica, Fisiatria, Medicina Interna e Imagiologia), por significar uma «troca» de cuidados de saúde por projetos turísticos privados, pondo em causa a própria essência do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

A atitude do CA do CHS em excluir os seus médicos da planificação e organização da ampliação do CHS é lamentável e constitui, no mínimo, um exemplo de autoritarismo puramente gestionário, demonstrando a sua incapacidade para compreender a relevância do apoio e participação dos médicos nas decisões de gestão do Hospital, contradizendo a tão preconizada reforma hospitalar contemplada no Plano de Recuperação e Resiliência.

O SMZS exige que o CA do CHS se retrate perante os seus médicos e os inclua nos processos de tomada de decisão na gestão do hospital, apoiando-os em todas as tomadas de posição que decidam assumir em defesa do SNS, do direito à saúde e da melhoria da qualidade dos cuidados prestados a população que servem.

O SMZS exige ainda que o Governo preste esclarecimentos claros quanto à intenção de alienar o Hospital do Outão para satisfação de projetos privados, turísticos ou de outra natureza, e como justifica que esse tipo de negociação seja conduzido por alguém que pode ter um conflito de interesses neste assunto.