O Conselho Distrital de Braga da Inter-Reformados, hoje reunido ordinariamente e, após breve apreciação sobre a situação social do país, destacamos três pontos:
1. Um olhar sobre Odemira com uma realidade gritante. Milhares de migrantes vivem em condições desumanas, com suspeitas já antigas de tráfico humano. A COVID-19 veio destapar a violação de Direitos Humanos. Os sucessivos governos sempre fecharam os olhos às denúncias. Em Odemira, como em todo o País, foi decretado o cerco sanitário e a requisição civil, instalando a indignação entre os migrantes e restante população.
2. A Cimeira Social Europeia realizada no Porto é, no plano simbólico, uma cimeira importante, cujas metas fundamentais anunciadas são apenas objectivos gerais. As três grandes metas apresentadas que consistiam em chegar a 2030 com 78% da população entre os 20 e os 64 anos com emprego, 62% participar anualmente em acções de formação e reduzir a 15 milhões o número de pessoas em situação de pobreza e exclusão social, entre as quais 5 milhões de crianças. Vamos ficar atentos. Portugal tem mais de 2 milhões nesta última situação, e a tendência tem sido de aumento. Sabemos que ser pobre em Portugal não é igual a ser pobre na Alemanha, Dinamarca ou Suécia. Para uma Cimeira Europeia consideramos o conteúdo muito pouco.
O levantamento das patentes das vacinas foi um fiasco, tal é a ganância económica capitalista, sacrificando milhares de pessoas à morte! Para muitos é muito pouco, para alguns foi muito bom!
3. O Presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza, Desigualdades, Pobreza e Sem-Abrigo em Portugal (Padre Jardim Moreira) diz, e nós concordamos, que temos de nos centrar nas pessoas, é nelas que temos de investir se queremos evoluir. Apostar na educação! A começar pelos professores e alunos, para que a alavanca social melhore. Tendo em conta que o abandono escolar ronda os 10%, não é fácil de antever o que vai continuar a acontecer. Vivemos numa sociedade que gera pobres desde a infância.
Deixemos de olhar para o lucro. O desenvolvimento não se faz apenas com dinheiro. As pessoas continuam a ser o centro das nossas preocupações. Pouco vale atirar dinheiro sobre os problemas, se não combatermos as causas estruturais. A versão assistencialista nada resolve. Investir na pobreza tem de ser rentável. Não podemos estar todos os anos com o mesmo tipo de subsídios, desde que nascemos até à morte. Esta é a falência das políticas sociais.
A pobreza também é territorial e diversificada: nuns casos advém da precariedade laboral, dos baixos salários e da baixa escolaridade; noutras advém do envelhecimento da população e das reformas de valores miseráveis. É por isso fundamental desenhar políticas de combate à pobreza adaptadas aos territórios, e sempre centradas no bem-estar social. A próxima década trará mais um aumento brutal da precariedade no emprego. As mudanças nos processos produtivos são tão dramáticas que, provavelmente, muitos dos que agora têm empregos precários vão ter muita dificuldade em se manter no mercado de trabalho. Como resultado, a crescente desconfiança das pessoas em relação à política. É necessário solidariedade e uma visão mais humanista.
Segundo dados do INE, 17% da população portuguesa vive em risco de pobreza. 1,7 milhões passam fome, estão mal alimentados ou recorrem aos bancos alimentares. Mais de 7 mil não têm tecto onde se abrigar.
Assim vai Portugal! Para uns poucos, muito bem, para muitos muito mal!
Braga, 12 de Maio de 2021
Conselho Distrital de Braga da Inter-Reformados