A Fiequimetal emitiu fundamentado parecer negativo relativamente à intenção, manifestada pela administração da Petrogal (Grupo Galp Energia), de encerrar a refinaria do Porto, instalada desde 1969 em Leça da Palmeira (Matosinhos).
No parecer, enviado pela federação no início desta semana, afirma-se que a decisão da administração não tem racional económico, é cega, resulta do funcionamento de um sistema monstruoso, que visa exclusivamente a obtenção do lucro, numa lógica imediatista, sem considerar o impacto económico e social, tendo o rasto de pobreza como marca de água.
Merece condenação a distribuição de dividendos, consumada em 24 de Abril de 2020, contribuindo para a descapitalização da empresa e do grupo, bem como para cortes de centenas de milhões de euros em custos (na origem da saída de centenas de trabalhadores). Na mesma senda, foram cancelados investimentos muito importantes para dinamizar as refinarias.
O cata-vento da refinação
Sublinha-se que ficou por elucidar o que terá acontecido entre Fevereiro de 2019 e a data presente, a motivar uma radical mudança de posição da administração acerca do futuro da refinação.
Para a Fiequimetal e os seus sindicatos na Petrogal (SITE Norte, SITE CSRA e SITE Sul), a grande novidade foi a estratégia europeia para o hidrogénio, que mobilizará 9 mil milhões de euros em Portugal, um valor da mesma ordem de grandeza que aquele que a Alemanha reservará para o seu sector energético.
É sabido que a Galp está no «H2Sines», um projecto multimilionário e megalómano para a ainda incerta produção de hidrogénio e que concorre na grande bolada dos recursos públicos (fundos da União Europeia).
A lotaria destes fundos requer alinhamento político com um Governo que assume uma agenda impossível para a transição energética - a qual era verberada antes pela administração da Petrogal.
A biorrefinaria ocultada
A federação assinala que a «estratégia para o hidrogénio», em si, não justifica a necessidade de encerramento das refinarias e recorda que existe um projecto, não divulgado pela administração, para transformar a refinaria do Porto numa biorrefinaria.
Esta alternativa permitiria manter a importante produção petroquímica e preservar os empregos, com impactos profícuos na economia local.
A refinaria deixaria de processar petróleo bruto e passaria a tratar matérias-primas de origem biológica (como óleos alimentares usados e óleos provenientes de resíduos florestais), produzindo biocombustíveis e produtos petroquímicos nobres também com componentes bio, em parceria com a refinaria de Sines.
Este projecto, idêntico ao avançado para a refinaria espanhola de Cartagena, seria perfeitamente viável, comprovado que está que estes projectos têm elevadas taxas de rentabilidade (30 por cento) e retorno (menos de cinco anos).
O projecto da biorrefinaria não avançou porque a administração da Galp privilegia os resultados de curto prazo, também eventualmente relacionados com negócios imobiliários já publicamente falados para os terrenos em Matosinhos, com o objectivo de alimentar a fogueira dos dividendos a entregar aos accionistas.