A tão anunciada falta de mão-de-obra no sector da hotelaria e restauração, ao contrário das razões apontadas pelo patronato, é, antes de mais, consequência dos baixos salários e do brutal agravamento das condições de trabalho e de vida dos trabalhadores deste sector. São afirmações que pretendem esconder a responsabilidade de quem as faz, bem como a difícil realidade vivida por quem trabalha neste sector. Além disso, trata-se de apelos a um maior apoio público por parte dos Governos para canalizar mais uns milhões de euros do Orçamento do Estado para os bolsos dos patrões em nome do combate à precariedade e à sazonalidade, para além do apelo ao Governo para ajudar a recrutar mão-de-obra estrangeira mais fácil de explorar, nomeadamente refugiados que procuram melhores condições de vida que não encontram nos seus países de origem.
Este é um sector que tem vindo a atingir resultados recordes sucessivos ao mesmo tempo que o trabalho é cada vez mais precário, horários cada vez mais longos e desregulados, ritmos de trabalho cada vez mais penosos e os direitos cada vez mais postos em causa. Este é cada vez mais um sector de passagem, onde se trabalha com a perspectiva de encontrar algo melhor noutro sector ou noutro país.
É um sector onde se verifica uma grande rotação de trabalhadores no mesmo posto de trabalho porque se recorre cada vez mais a trabalhadores temporários, aos estágios e à prestação de serviços, prejudicando, com isso, a qualidade do serviço, embora os preços cobrados aos clientes continuem a aumentar.
É um sector que ataca os direitos dos trabalhadores, que tenta por em causa o direito à liberdade sindical tentando criminalizar a actividade sindical na empresa, como aconteceu no Hotel Tivoli Carvoeiro e acontece no Pine Cliffs Resort em Albufeira e no Hotel Crowne Plaza Vilamoura, entre outros exemplos.
Além de outras, estas são as principais razões que levam os patrões a queixarem-se da falta de mão-de-obra qualificada. O problema não é a falta de mão-de-obra. O problema são as condições cada vez mais miseráveis que os patrões impõem aos trabalhadores.
Para uma inversão desta situação é necessário valorizar os salários, garantir vinculos de trabalho estáveis, horários que permitam a conciliação da actividade profissional com a vida pessoal e familiar, salvaguardar o transporte entre o local de residência e o local de trabalho, repor as carteiras profissionais para melhorar a qualificação dos trabalhadores e permitir a progressão na carreira, valorizar a contratação colectiva, entre outros factores.
Para um turismo de qualidade é indispensável valorizar os trabalhadores, repartir com eles a riqueza criada e proporcionar-lhes melhores condições de vida.
Fonte: Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Hotelaria, Turismo, Restaurantes e Similares do Algarve