Declaração de voto sobre a proposta de reprogramação do POSEUR

POSEUR Portugal2020A proposta de reprogramação do POSEUR não pode ser desligada do quadro de grande dependência do investimento público em Portugal face aos Fundos Europeus Estruturais e de Investimento e da reprogramação de todo o Portugal 2020.

De acordo com o documento enquadrador do Ministério do Planeamento e Infraestruturas, a reprogramação do Portugal 2020 em 2018 tem como fundamento a melhoria do contexto económico e orçamental e visa, entre outros objectivos, intensificar o alinhamento com o Programa Nacional de Reformas (PNR), o instrumento que corporiza a Estratégia Europa 2020 em termos nacionais.

Desde o lançamento do Acordo de Parceria 2014-2020 que a CGTP-IN chamou a atenção para o facto do seu conteúdo evidenciar a ausência de resposta aos problemas concretos do país, uma vez que a submissão à Estratégia Europa 2020 relega para segundo plano a definição soberana de um modelo de desenvolvimento, bem como a coesão e convergência real dos países e regiões, assim como os aspectos de valorização territorial e de redução das assimetrias regionais.

Neste sentido, o reforço do alinhamento estratégico do Portugal 2020 com o PNR – onde se inclui o reforço do apoio aos instrumentos que respondem às recomendações no âmbito do Semestre Europeu -, significa a subversão do objectivo de coesão dos fundos estruturais como instrumentos de compensação entre Estados-membros da UE e de promoção da convergência real entre países e territórios, e tem como objectivo subordiná-los ao programa de reformas estruturais da Agenda de Lisboa. Esta agenda tem como fim a rentabilização privada de mercados e serviços públicos, reformas estruturais na administração pública, o condicionamento do investimento público dos Estados e a promoção de formas de flexibilização das leis laborais e de redução dos custos unitários de trabalho.

No que diz respeito em concreto ao POSEUR, conclui-se que, não obstante a existência algumas que vão no sentido de melhorar o conteúdo do POSEUR (não utilização de instrumentos financeiros, clarificação do apoio ao Sector Empresarial do Estado como parte da Administração Central, apoios na área das cheias/inundações, entre outras), a reprogramação não responde às necessidades na sua área de intervenção.

As duas novas tipologias relativas às energias renováveis (fotovoltaica e eólica offshore), indo de encontro à Prioridade de Investimento 4.1 (Fomento da produção e distribuição de energia proveniente de fontes renováveis) suscita-nos uma questão relacionada com o tipo de beneficiários. Sendo beneficiários os beneficiários empresas e grupo privados, do que se trata é do financiamento público de lucros futuros destas entidades, defendendo a CCGTP-IN que a realização deste investimento deveria ser feita no quadro de uma exploração pública.

Quanto à área dos transportes, o ajustamento previsto resume-se apenas ao reforço do apoio à mobilidade urbana sustentável (metros de Lisboa e Porto, Linha de Cascais e mobilidade no Mondego) e de forma limitada, uma vez que o financiamento é claramente insuficiente face às necessidades.

Os grandes investimentos nesta área ficarão, para o próximo período de programação, nomeadamente a ligação da Linha de Cascais à linha de cintura e o investimento no material circulante, continuando as populações desta zona a ser mal servidas, quando o que se impõe é o lançamento célere dos concursos para a aquisição de comboios e para a realização das obras de modernização da infraestrutura.

O mesmo acontece com o metro de Lisboa e do Porto, já que os investimentos são muito limitados face às necessidades. O que seria necessário era a extensão das linhas às zonas menos centrais e aos concelhos limítrofes.

Em Lisboa, a proposta de transformar a linha verde do metropolitano numa linha circular é uma opção errada que, a ser posta em prática, iria prejudicar milhares de passageiros que todos os dias se deslocam de concelhos limítrofes (designadamente de Odivelas) para o centro da cidade e que passam a ter que fazer um transbordo. No Porto, o metro veio substituir apenas parcialmente a linha ferroviária que antes servia vários concelhos, pelo que o necessário seria ter um serviço de transportes públicos integrado que responda às populações não servidas por transportes públicos.

Relativamente ao Sistema de Mobilidade do Mondego, a solução proposta (sistema de metrobus) não se afigura adequada, dado que com a desactivação do Ramal da Lousã se perdeu a ligação à rede ferroviária nacional. A CGTP-IN defende que o investimento deve ser feito na reposição, electrificação e modernização da Linha do Ramal da Lousã.

Por outro lado, o reforço do investimento é feito apenas nas zonas urbanas, deixando de fora o restante território, demonstrando que a falta de uma reprogramação efectiva limita, não apenas o apoio à mobilidade urbana mas, ainda mais, o apoio ao reforço e melhoria da mobilidade no território nacional e designadamente das regiões mais deprimidas e do interior, de modo a combater as assimetrias regionais e a promover o desenvolvimento integral do território.

Sendo a mobilidade fundamental ao desenvolvimento do país, a CGTP-IN defende que, quer os fundos estruturais e de investimento (seja neste ou noutros PO), quer outras fontes de financiamento, devem der aproveitados para reforçar as infraestruturas viárias, nomeadamente a rede ferroviária, através da conclusão de troços já iniciados, do investimento na modernização e electrificação de linhas ferroviárias, na reabilitação de troços e em novas linhas, quer para transporte de passageiros, quer de mercadorias, quer para ligações internacionais, com garantia de gestão e exploração públicas assegurando horários e frequências compatíveis com uma utilização diária. No nosso entender, dever-se-ia apostar numa rede ferroviária que ligasse de forma rápida e integrada todas as capitais distritais entre si, contribuindo para o reforço da coesão territorial do país e para o reforço da mobilidade interna.

A não realização do investimento na aquisição dos meios aéreos para combate a incêndios florestais também não merece a nossa concordância, e ainda menos em face dos argumentos utilizados: (i) a operacionalidade dos meios exige um número mínimo de 3 meios aéreos, com um custo estimado de 141 milhões de euros, montante este substancialmente superior ao previsto na programação da PI.5.2 para o domínio Redução do Risco de Incêndio Florestal, que corresponde a 50 milhões de euros; (ii) a única empresa construtora de meios aéreos pesados só poderá desencadear a produção de um mínimo de 12 aviões, o que actualmente não é possível; (iii) o custo de operação e manutenção dos meios aéreos durante todo o ano é muito elevado (cerca de 10 milhões de euros/ano), atendendo a que a necessidade dos mesmos se concentra apenas em alguns meses (época crítica). As tragédias que aconteceram em 2017 e os incêndios que sistematicamente ocorrem todos os anos, mesmo que concentrados em certas épocas, e que consomem avultados recursos à economia nacional e causam mortes são plenamente justificativas do investimento.

A CGTP-IN considera, pelos motivos atrás expostos, que a reprogramação proposta não dá resposta às necessidades no âmbito da sua intervenção, pelo que vota contra a proposta de reprogramação em apreciação.

Lisboa, 29 de Junho de 2018

CGTP-IN